Lytro, a revolução do conceito de fotografia?



No dia 19 de outubro de 2011, Ren Ng (sim esse é o nome do cara. Como se pronuncia? Não sei...) através de sua recém formada Lytro Co. finalmente apresentou para o público a sua tão aguardada máquina, simplesmente chamada de Lytro, que de acordo com ele, pode fazer foco nas imagens após a captura.
Será que a nova tecnologia vai revolucionar o mercado? Desde que o desenvolvimento deste tipo de tecnologia foi divulgado há alguns anos, muitas pessoas vêm discutindo a utilidade de um recurso que mexe com algo tão sagrado na prática da fotografia, como uma foto bem focada.

Já dá para encontrar várias discussões por aí, algumas bem intensas, sobre como isto vai impactar na fotografia atual, ou como isto vai mudar o nosso modo de retratar o mundo, mas eu particularmente acho que esta nova tecnologia vai muito além das questões da fotografia.
Antes de entrar na discussão a respeito do que a nova câmera pode representar e as conseqüências desta nova tecnologia, quero destacar alguns fatos:

- A tecnologia de captura de imagem digital deriva de descobertas feitas com materiais condutores que datam da década de 60. Em 2009 o Nobel de Física foi dado à dupla de pesquisadores que desenvolveu os princípios da tecnologia que mais tarde possibilitou a criação dos sensores de captura de imagem.
- O Padrão Bayer de leitura da luz, usado nos sensores de hoje (CCD ou CMOS), captura apenas 25% da cor azul, 25% da cor vermelha e 50% da cor verde do espectro de luz refletido por um objeto. O restante é “adivinhado” pela câmera em um processo chamado de interpolação. Teoricamente o que vemos é uma “suposição” do que seja a imagem.
- Apesar de um sensor de captura de imagem poder ser de qualquer tamanho, hoje o desenho das câmeras ainda obedece as formas básicas de quando a película de filme limitava as dimensões de uma câmera.
- Uma DSLR profissional como uma D3X possui em torno de 31 comandos externos, entre botões, chaves e alavancas.
Vistas das laterais da Lytro. Podem-se ver os comandos 
de zoom, disparo, e ligar.

 Estes fatos servem para destacar certos pontos a respeito desta nova câmera, que muda bastante certos aspectos práticos no ato de fotografar atual.
 A começar pelo design bem simples (dizem, inspirado pela filosofia de design da Apple), ela é um bloco/tubo retangular de alumínio com apenas dois comandos externos: um comando do zoom da lente e o botão de ligar. Todos os principais ajustes são realizados usando o monitor de visualização, localizado em umas das extremidades, que é touch screen, em uma forma de operação descrita como “usando um Iphone".

Já na parte digital, ela é parecida com as demais câmeras do mercado, com uma crucial diferença: ela tem um filtro especial de microlentes na frente, que distribui a luz de forma que ela atinja o sensor de todas as direções e em vários ângulos diferentes, e não somente de frente. Tal tecnologia é conhecida como Light Field Câmera, que pode ser traduzida como “câmera de campo de luz”, mas acho que esta definição não faz jus ao que ela representa em termos de tecnologia.



Qual é a sacada? Em um sensor convencional (CCD ou CMOS), a luz alcança o sensor basicamente “em linha reta”, atingindo os fotodetectores de apenas um ângulo. Na prática, isso reflete na imagem como pouca amplitude da Gama Dinâmica, menor tolerância das aberrações cromáticas das lentes, vinhetas, mesmo usando lentes que produzam um círculo de imagem maior que a área do sensor, no caso de câmeras com sensor cropado. Claro que isso não foi ignorado pelos fabricantes de sensores, que de diversas formas tentam resolver a questão, tendo conseguido resultados bem satisfatórios até hoje.
Já na tecnologia usada na Lytro, a luz que chega ao sensor não somente atinge os fotodetectores “de frente”, mas também lateralmente, através do filtro de microlentes em frente do sensor.
Claro que apenas isso não produz a mágica. Um software decodifica os sinais analógicos vindos das diversas direções e gera um arquivo que é processado considerando não somente a intensidade da luz, mas também a inclinação angular de como ela chega ao sensor.
Assim ela é capaz de registrar a entrada da luz que vem de diversos planos focais na imagem, podendo condensá-los em um único arquivo, que vai ser a imagem final, manipulável no que diz respeito ao foco
Mas, apesar da mágica, ela tem um pequeno problema, que é o tamanho da imagem final, porque para conseguir reunir toda essa informação luminosa, a câmera perde em resolução de imagem, pois mais fotodetectores são usados para interpretar um mesmo ponto pixel de informação.
Só que sendo esta tecnologia tão nova, ela ainda está muito longe de atingir todo seu potencial latente. E como toda a quebra de paradigmas, essa nova tecnologia terá que vencer muitas barreiras para amadurecer, ainda mais se a compararmos aos mais de 50 anos de desenvolvimento dos sensores que usamos hoje.
Mas algumas coisas da sua natureza, eu imagino, já podem provocar mudanças no mundo da captura de imagem de hoje, como o próprio conceito de tridimencionalidade.
Segundo o criador da Lytro, a imagem capturada é nativamente tridimencional, pois ao considerar não somente posição mas também ângulo de incidência da luz, ela tem condições de adicionar profundidade real às imagens geradas. 
Ren Ng: Criador e Criatura. 

Melhor, imaginem poder ver uma foto tridimensional sem precisar usar aqueles incômodos óculos escuros, ou ter que ficar perfeitamente alinhado na frente da tela.
Outro ponto interessante que Ren Ng mencionou foi a possibilidade de gerar imagens holográfica “reais" mais práticas de serem vistas, sem que tenhamos caríssimos laseres ou nos enfiemos em salas escuras.
Com uma tecnologia assim, muita coisa pode mudar no mercado, e em uns 5 ou 10 anos, quem sabe, tudo o que vemos hoje em matéria de tecnologia 3D pode simplesmente não existir mais.
No final das contas, mesmo que não seja toda esta revolução que eu pintei, o conceito todo é bem interessante. Há anos muita gente reclama da falta de profundidade da imagem digital. Isso decorre da forma como a imagem até então era capturada: só “de frente”, apenas uma imagem bidimensional. Assim, extrapolando um pouco, a Lytro recupera um pouco do comportamento das películas de filme, que por serem cristais de prata que reagiam à presença de luz, não importando de onde ela viesse, já que elas não possuíam essa limitação direcional dos sensores atuais. 
Mas vamos ficar de olho nela, porque sendo a tecnologia da Lytro ainda meio que “bebê”, certos aspectos dela ainda não estão prontos para serem apresentados ao público, mas o potencial latente desta nova tecnologia é bem grande e eu quero ver até onde ela pode chegar.
Quer ver como a câmera funciona. Visite o site:

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